O assédio, seja ele sexual, moral ou de qualquer outra natureza, é uma realidade violenta em muitos ambientes de trabalho e espaços sociais ao redor do mundo. Seus efeitos vão muito além do desconforto imediato mas também pode afetar profundamente a saúde mental das vítimas. Um “fenômeno” que não apenas deteriora o ambiente profissional mas também tem implicações profundas na saúde mental de quem o sofre.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza suas capacidades, pode lidar com as tensões normais da vida, trabalhar de forma produtiva e contribuir para sua comunidade. Quando o assédio entra em cena, esse estado de bem-estar é profundamente comprometido. Pesquisas indicam que vítimas de assédio no trabalho têm maior probabilidade de sofrer de transtornos de ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e a síndrome de burnout.
Além disso, um estudo publicado no Journal of Applied Psychology demonstrou que as vítimas de assédio no trabalho têm 64% mais chances de sofrer de problemas de saúde mental do que aqueles que não são expostos a essas situações. Outro dado alarmante, proveniente da American Psychological Association, aponta que vítimas de assédio sexual têm 2,5 vezes mais chances de sofrer de depressão.
Analisando o impacto financeiro para empresas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), estima-se que anualmente 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos devido a depressão e ansiedade, custando à economia global quase 1 trilhão de dólares, sendo a violência psicológica (assédio moral) uma das principais queixas e motivos destes afastamentos.
Além dos efeitos imediatos, o assédio no ambiente de trabalho pode ter repercussões a longo prazo na trajetória profissional das vítimas, afetando suas perspectivas de carreira, satisfação no trabalho e até mesmo levando à saída do mercado de trabalho. Isso sem mencionar o impacto na vida pessoal, onde relações e a capacidade de confiar nos outros podem ser severamente abaladas.
A especialista no tema sobre saúde mental no trabalho e idealizadora do 1º grupo de acolhimento de pessoas que sofrem ou sofreram da Síndrome de Burnout, o Burnoutados Anônimos, Carol Milters alerta sobre a relação sobre o assédio e as vítimas de burnout. Segundo ela, em sua experiência conduzindo este grupo há 3 anos e ouvindo centenas de pessoas, o assédio figura como a grande causa de adoecimento dos participantes.
Diante desses dados e relatos, é crucial refletirmos: enquanto sociedade, estamos fazendo o suficiente para combater o assédio e proteger a saúde mental das vítimas? As políticas corporativas atuais são eficazes na prevenção e no tratamento das consequências do assédio? O que precisamos fazer para criarmos uma contracultura e erradicarmos esta violência dentro e fora do ambiente de trabalho?
É evidente que a resposta para essas questões passa pela educação e pela criação de ambientes inclusivos e seguros. Nas empresas, programas de treinamento e conscientização sobre o assédio precisam ser implementados, não apenas como uma formalidade, mas como um compromisso genuíno com a mudança cultural dentro das organizações.
Além disso, é fundamental que as vítimas de assédio tenham acesso a recursos de apoio e canais de denúncia seguros e eficazes. A solidariedade e empatia entre colegas e o apoio institucional são indispensáveis para que as vítimas se sintam confiantes para denunciar os abusos e buscar ajuda.
Finalmente, cabe a cada um de nós refletir sobre nossas próprias atitudes e comportamentos. Estamos contribuindo para um ambiente de respeito e igualdade, ou nossas ações perpetuam ciclos de abuso e discriminação? A mudança começa com a conscientização individual e se amplia para a coletividade.